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sábado, 23 de maio de 2020

Afinal, quem foi Osho?

Muito se lê em frases sobre uma foto de um homem. Mas quem foi ele?

Rajneesh Chandra Mohan Jain (रजनीश चन्द्र मोहन जैन) nasceu em Kuchwada, Índia, aos 11 de Dezembro de 1931 e veio a óbito na cidade de  Pune, Índia, aos 19 de Janeiro de 1990. 
Foi líder religioso de uma seita de tradições dármicas, mestre na arte da meditação e do despertar da consciência. Apesar de sua formação e docência acadêmica em filosofia, além de ter sido campeão em debates, ele não se considerava um filósofo, mas sim um místico, pois seu principal propósito era o desenvolvimento da consciência, o autoconhecimento, através da meditação. 

Durante a década de 1970, foi conhecido pelo nome de Bhagwan Shree Rajneesh e, mais tarde, como Osho.

Foi  durante  toda  a  sua  vida  uma  figura extremamente polêmica, em boa parte, porque ele próprio raramente procurava apaziguar ou evitar conflitos. Nunca foi um moralista, enfatizando sempre a consciência individual e a responsabilidade de cada um por si mesmo. Não considerava o ato sexual como um tabu, tendo uma postura bastante liberal a esse respeito. Durante sua vida, foi perseguido em diversos países onde esteve, inclusive em sua terra natal. 

Para os seus discípulos, seus ensinamentos levam à realização da liberdade pessoal, através da percepção individual das amarras aprisionadoras das tradições e das autoridades estabelecidas. Embora Osho nunca tenha escrito nenhum livro, 650 títulos em 57 idiomas foram criados e têm sido publicados a partir de transcrições de seus discursos e palestras.

Os livros baseados em suas palavras até hoje fazem muito sucesso em muitos países, inclusive no Brasil, país que possui um ativo grupo de discípulos e de simpatizantes, espalhados em muitos dos grandes centros e em algumas comunidades mais afastadas. 

Alguns dos discípulos exercem algum tipo de atividade terapêutica alternativa e divulgam suas principais meditações, como a chamada Osho Meditação Dinâmica e a Osho Meditação Kundalini, que são marcas registradas, protegidas por direitos autorais. Alguns leigos dizem tratar-se de um exercício aeróbico que promove embriaguez por hiperventilação. Pessoas que já tiveram experiência pessoal nessas técnicas, no entanto, afirmam que a hiperventilação, a catarse consciente e os movimentos intensos e danças lúdicas presentes nas mesmas não causam nenhuma embriaguez, mas somente oxigênio em maior quantidade e liberação emocional consciente que traziam disposição física durante para cuidar das atividades da vida.

Segundo referem os seus admiradores, Osho não pretendia impor a sua visão pessoal nem estimular conflitos. Enfatizou, pelo contrário, a importância de se mergulhar no mais profundo silêncio, pois somente através da meditação se poderia atingir a verdade e o amor, guiada pela consciência individual, sem intermediários como sacerdotes, políticos, intelectuais ou ele mesmo. Transmitia, pois, uma mensagem otimista que apontava para um futuro onde a humanidade deixaria o plano da inconsciência e, por conseqüência, a destruição, o medo e o desamor, já que cada um seria o buda de si próprio, recordando aquilo que a consciência imediata esqueceu. Segundo esta visão, a humanidade parece-se a um conjunto de cegos guiados por outros cegos ( imagem que também faz parte do ideário cristão, com algumas diferenças ).

Os seus seguidores reconhecem-no como uma das figuras mais importantes da história da humanidade, sendo injustiçado pela humanidade ignorante. No seu trabalho, Osho falou praticamente sobre todos os aspectos do desenvolvimento da consciência humana. Seus discursos para discípulos e buscadores de todo o mundo foram publicados em mais de 650 títulos e traduzidos para mais de trinta línguas.

Todo o trabalho de Osho é de desconstrução e silêncio. Desconstrução de dogmas arcaicos e amarras psicológicas que aprisionam e limitam o ser humano. 

Segundo Osho, todo o planeta ( com raras exceções ) está doente. Mas é uma doença autoimposta. Liberdade, seria em sua visão, o fundamento de um homem auto-realizado e digno. O silêncio, por sua vez seria a comunhão da criatura com sua essência divina e pura, sendo reencontrado pela meditação, onde o homem experimenta seu verdadeiro ser.

De Sigmund Freud a Chuang Tzu, de George Gurdjieff a Buda, de Jesus Cristo a Rabindranath Tagore, Osho extraiu, de cada um, o que seria a essência do que acreditava ser significativo na busca espiritual do homem, baseando-se não apenas na compreensão intelectual, mas na sua própria experiência existencial.

Ao dizer, por exemplo, que "o orgasmo sexual oferece o primeiro vislumbre da meditação porque nele, a mente pára, o tempo pára", a mídia o apelidou de "guru do sexo". Quando se descobriu a causa da aids, Osho determinou que seus discípulos fizessem o teste de HIV. Pioneiro, recomendou usar camisinha e luvas de látex na hora do sexo, coisas ridicularizadas na época. Para A. Racily, que conviveu com Osho, o guru queria apenas que o sexo não fosse renegado. Ela diz que nunca houve orgias na comunidade e que esses boatos vinham de quem queria se aproveitar da liberdade sexual. 

Osho graduou-se em Filosofia na Universidade de Sagar, com as honras de primeiro lugar. Na época de estudante foi campeão nacional de debates na Índia. 

Em 1966, depois de nove anos limitado pela função de professor de filosofia na Universidade de Jabalpur, abandonou o cargo e passou a viajar por todo país, dando palestras, desafiando líderes religiosos ortodoxos em debates públicos, desconcertando as crenças tradicionais e chocando o status quo.

Em 1968, ainda com seu primeiro nome espiritual, Bhagwan Shree Rajneesh, estabeleceu-se em Bombaim, onde morou e ensinou por alguns anos. Organizou regularmente campos de meditação, onde introduziu a sua revolucionária Meditação Dinâmica. 

Em 1974, inaugurou o ashram de Poona, e sua influência já atinge o mundo inteiro. Ao mesmo tempo, sua saúde se fragilizava seriamente.

Osho se recolhia cada vez mais à privacidade de seus aposentos, aparecendo apenas duas vezes por dia em suas palestras matinais e, à noite, em sessões de aconselhamento e iniciação. 

Em maio de 1981, Osho parou de falar e iniciou uma fase de comunhão silenciosa de coração-a-coração, enquanto seu corpo, seriamente doente, com graves problemas de coluna, descansava. Tendo em vista a possibilidade de que fosse necessária uma cirurgia de emergência, Osho foi levado aos Estados Unidos. Seus discípulos americanos compraram um rancho no deserto do Oregon e convidaram-no a ir para lá, onde recuperou-se rapidamente.

Uma comuna logo estabeleceu-se ao seu redor, formando a cidade de Rajneeshpuram. Em outubro de 1984, Osho voltou a falar a pequenos grupos e, em julho de 1985, reiniciava seus discursos a milhares de buscadores, todas as manhãs. 

Em 1984 o culto entrou em conflito com os moradores locais e a comissão do condado. Ma Anand Sheela, uma das líderes da seita de Osho, tentou influenciar a eleição de novembro e ocupar as duas vagas abertas com seus seguidores através da busca de centenas de moradores de rua de cidades próximas para registrá-los como eleitores do condado. Mais tarde, quando esse esforço fracassou, Sheela conspirou, em 1984, para usar bactérias e outros métodos para deixar as pessoas doentes e impedí-las de votar. Como resultado, seguidores da seita infectaram as saladas de dez restaurantes locais com salmonela e cerca de 750 pessoas ficaram doentes.

Em 13 de setembro, 1985, Sheela deixou a comunidade e foi para a Europa. Alguns dias mais tarde, Rajneesh a "acusou de incêndio criminoso, escutas telefônicas, tentativa de homicídio e envenenamento em massa." Ele também afirmou que Sheela tinha escrito o Livro de Rajneeshism e o publicado em seu nome. Posteriormente vestes de Sheela e 5 mil exemplares do livro foram queimados em uma fogueira na comunidade.

Depois que as autoridades norte-americanas encontraram redes de escuta telefônica e um laboratório de bioterrorismo na casa de Sheela no Oregon, ela foi presa na Alemanha Ocidental, em outubro de 1986. Foi processada pelo crime de envenenamento, e  condenada a 20 anos em prisão federal e multada em 470 mil dólares. 

Rajneesh disse que ordenou a queima de livros para livrar a seita dos últimos vestígios da influência de Sheela, cujas vestes foram jogadas na fogueira. O ataque salmonela foi o primeiro caso de terrorismo químico ou biológico ocorrido nos Estados Unidos.

Em 23 de outubro de 1985, um júri federal indiciou Osho e vários outros discípulos de conspiração para fugir das leis de imigração.

Em 28 de outubro de 1985, Osho e um pequeno número de sannyasins a acompanhá-lo foram presos a bordo de um Learjet alugado em uma pista de pouso na Carolina do Norte; de acordo com autoridades federais, o grupo estava a caminho de Bermuda para evitar processos. Cerca de 58 mil dólares em dinheiro, além de 35 relógios e pulseiras de 1 milhão de dólares foram encontrados na aeronave.

Depois de inicialmente suplicar inocência de todas as acusações e ser libertado sob pagamento de fiança Osho, a conselho de seus advogados, entrou em um tipo de confissão por meio do qual um suspeito não admite a culpa diretamente, mas admite que há provas suficientes para condená-lo. A acusação era ter uma intenção oculta de ficar permanentemente nos Estados Unidos no momento de sua solicitação original de visto em 1981 e uma acusação de ter conspirado para que seus seguidores entrassem em casamentos fictícios para adquirir o green card. Sob o acordo de seus advogados fizeram com o Ministério da US foi-lhe dada uma pena suspensa de 10 anos, com liberdade condicional de cinco anos e uma multa de 400 mil dólares, além de concordar em deixar os Estados Unidos e não retornar por pelo menos cinco anos sem a permissão do Procurador-Geral dos Estados Unidos.

Deixando o país no mesmo dia, Osho voou para a Índia, onde permaneceu em repouso nos Himalaias. Uma semana mais tarde, a comuna do Oregon resolveu dispersar-se. Nessa época, Osho enfrentou dificuldades para poder fixar-se num lugar pois, onde quer que tentasse estabelecer-se, tinha sua permanência negada pelas autoridades, por o que seus seguidores acreditam ser uma clara influência do governo norte-americano. Ao todo, 21 países o expulsaram ou negaram o visto de entrada.

Os seus discípulos garantem que, depois de expulso dos Estados Unidos, Osho não conseguiu qualquer visto para permanência nos países que visitou após o incidente, devido a pressões norte-americanas. Alegam que nenhuma das acusações feitas tem consistência objetiva, sendo fruto apenas do temor e ódio das instituições representadas pelo governo norte-americano, segundo  referem os seus discípulos.

Representando sempre uma ameaça às tradições religiosas e políticas, foi impedido de entrar em vários países. Foi expulso da Grécia. Foi impedido preventivamente pelo parlamento Alemão de entrar nesse país mesmo sem nunca ter pedido visto de entrada e nem demonstrado interesse nisso. Somente conseguiu aterrisar seu avião na Inglaterra porque seu piloto alegou ter um doente a bordo.

Em julho de 1986, Osho voltou a Bombaim, na Índia, onde ficou hospedado por seis meses na casa de um amigo indiano. Na privacidade da casa de seu anfitrião, ele retornou aos seus discursos diários.

Em janeiro de 1987, mudou-se para o seu ashram em Poona, onde vivera a maior parte dos anos 1970. Imediatamente após sua chegada, o chefe de polícia de Poona ordenou-lhe que deixasse a cidade, sob a alegação de que era uma "pessoa controversa" que poderia "perturbar a tranquilidade da cidade". Tal ordem foi revogada no mesmo dia pela Suprema Corte de Bombaim.

Osho faleceu em 19 de janeiro de 1990. Algumas semanas antes dessa data, foi-lhe perguntado o que aconteceria com seu trabalho quando ele partisse. Ele disse: "Minha confiança na existência é absoluta. Se houver alguma verdade naquilo que estou dizendo, isso irá sobreviver... As pessoas que permanecerem interessadas em meu trabalho irão simplesmente carregar a tocha, mas sem impor nada a ninguém..."






* Publicado aos 19 de agosto de 2018, na página do facebook: Índia - o caminho místico.

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