Kunti de imediato
ofereceu um sacrifício a Dharma e com cuidado cantou o mantra dado
a ela anos atrás por Durvasa Muni. Unindo-se com Dharma, que apareceu
em sua forma verdadeira como um devotado servo do Senhor, a princesa monumental
obteve como seu filho o melhor de todos que respiram.
Exatamente ao meio-dia,
no momento mais auspicioso, quando a lua estava especialmente benevolente,
as estrelas prediziam piedosas vitórias, Kunti deu à luz
um filho de gloriosa fama. Tão logo ele nasceu, uma voz invisível
falou do céu:
– Entre todos
que seguem com fervor as leis de Deus, esta criança é sem
dúvida a melhor. O filho primogênito de Pandu será
conhecido como Yudhisthira, “estável em batalha”, e sua
fama como monarca se espalhará pelo Universo. Ele é completamente
dotado de fama, força e bondade.
Tendo obtido um filho
virtuoso como seu primeiro filho, Pandu novamente abordou Kunti e disse:
– É dito
que um rei ksatriya é preeminente em força. (Nossos filhos
serão líderes, e eles terão de possuir qualidades
ideais.) Portanto, escolha por sua bênção um filho
que seja o mais forte de todos os homens.
Na verdade, logo depois
de seu nascimento, aconteceu um incidente espantoso. Ainda bebê,
Bhima caiu do colo de sua mãe e com seus delicados membros pulverizou
um monte de pedras sólidas. No décimo dia depois de seu
nascimento, Kunti levou seu filho a um lago encantador para banhá-lo.
Depois de banhá-lo, ela foi visitar vários santuários
religiosos na região para obter bênçãos para
seu bebê. Assim que Kunti chegou ao pé de uma montanha e
parou para descansar, um tigre enorme surgiu de uma caverna na montanha
e avançou com velocidade mortal na direção dos indefesos
mãe e filho.
Sutilmente Pandu tinha
estado olhando sua esposa enquanto ela caminhava na direção
da montanha. Ele sempre carregava seu arco e flechas para proteger sua
família na selva perigosa. Quando o tigre enorme avançou
para matar, Pandu, com a coragem dos deuses, puxou para trás seu
arco belo e perfurou o corpo do tigre com três flechas mortais.
Lançando-se de volta para dentro de sua toca, a besta ferida de
morte encheu a caverna de rugidos terríveis.
Quando o tigre atacou,
Kunti pulou com terror, esquecendo-se que sua criança dormia em
paz no seu colo. O bebê caiu do colo dela e começou a rolar
encosta abaixo. Ele golpeou a montanha de pedra com a força de
raios lançados pelo poderoso Indra. Na realidade, enquanto Bhima
saltava encosta abaixo, uma pedra sólida quebrou-se em centenas
de pedaços. Quando Pandu viu seu filho amado cair do colo de sua
mãe, veio correndo, mas quando viu a pedra quebrada, ficou tomado
de espanto.
No grande dia em que
Bhima nasceu, ó senhor da abundante Terra, Duryodhana também
nasceu. Logo depois do nascimento de Bhima, Pandu de novo começou
a desejar um outro filho.
– Como eu posso
ter um outro filho excelente – ele pensou –, um filho que será
o mais elevado neste mundo? Sucesso na vida depende tanto das bênçãos
de Deus quanto de nossos próprios desejos honestos. Se nós
seguirmos com cuidado as leis de Deus e agirmos, na hora apropriada seguramente
podemos obter Suas bênçãos.
Temos ouvido que entre
os deuses que administram nosso mundo, Indra é o chefe. É
dito que ele é possuidor de força imensurável, coragem,
nobreza e esplendor. [Seguramente Indra poderia nos dar o maior filho
de todos.] Farei um esforço especial para satisfazer Indra por
realização de austeridades, e obterei então um filho
poderoso. Na realidade, dará um filho mais elevado. Sim, realizarei
muitas austeridades difíceis com meu corpo, espírito e minha
mente [para convencer o poderoso Indra de nossa sinceridade].
Pandu discutiu seu
plano com os grandes sábios e depois instruiu Kunti a observar
um voto auspicioso por um ano. E com máxima concentração,
Pandu submeteu-se a uma árdua austeridade, postando-se em uma perna
do nascer ao pôr do sol sem descanso, determinado a ganhar o favor
do Senhor Indra, o chefe dos trinta semideuses principais. Depois de um
longo tempo, ó Bharata, Indra dirigiu-se ao virtuoso rei Kuru:
– Eu dar-lhe-ei
um filho que será célebre por todo o Universo. Essa criança
excelente cumprirá a missão dos deuses, dos brahmanas, e
dos seus próprios amados, porque eu darei até você
o primeiro dos filhos, e ele derrotará tudo que o opuser.
Ouvindo essas palavras
do Senhor Indra, e mantendo-as em sua mente, o nobre Pandu disse a Kunti:
– Ó esposa
de sorriso doce, nós recebemos a misericórdia do rei dos
deuses. Ó esposa bem formada, chame-o agora e gere um filho que
carregará todo o fogo e poder da raça guerreira, uma grande
alma que será rígida em princípios morais, brilhante
como o sol, invencível em batalha, dinâmica, e sumamente
maravilhosa de se ver.
Diante de tais palavras,
aquela senhora ilustre chamou Indra, e o rei do deuses veio a ela e gerou
Arjuna. Assim que a criança nasceu, uma voz do céu falou
em tons tão profundos e claros, que os céus ressoaram com
a mensagem:
– Ó Kunti,
esta criança trará glória para seu nome, porque será
tão invencível quanto seu pai poderoso, Indra. Na realidade,
seu poder e sua coragem igualar-se-ão às de reis como Kartavirya
e Sibi.
Assim como o Supremo
Senhor Visnu deu sempre crescente satisfação para sua mãe
Aditi [quando Ele apareceu como Vamana], também seu filho Arjuna,
que é como Visnu mesmo, aumentará sua felicidade mais e
mais. Ele subjugará os guerreiros de Madra, os Kekayas e os guerreiros
de Cedi, Ka_i e Karusa, e então ele estabelecerá a autoridade
da dinastia Kuru. Pela força de seus braços, o deus do fogo
ficará completamente satisfeito por consumir todas as criaturas
da floresta Khandava.
Este líder
poderoso de seu povo conquistará heroicamente os governantes regionais
da Terra e então com seus irmãos realizarão três
grandes sacrifícios religiosos. O Kunti, seu filho será
feroz em batalha, como o próprio Para_urama, e seus feitos serão
tão gloriosos quanto aqueles do Visnu primordial. Arjuna será
o muito melhor do heróis, e ninguém o derrotará,
porque ele trará consigo as armas celestiais mais avançadas.
Assim este melhor dos homens trará de volta a glória e opulência
de sua dinastia.
Descansando no quarto
de maternidade, Kunti ouviu essas mais extraordinárias palavras
que Vayu ele próprio vibrou no céu. Quando os ascetas eruditos
dos Cem Picos ouviram estas declarações, brotou entre eles
a maior alegria. E então o próprio Senhor Indra, com os
semideuses, grandes sábios e outros habitantes do céu, começou
a celebrar o nascimento do seu filho terrestre. Tambores celestiais soaram
adiante, e um tumulto jubiloso encheu os céus. Chuvas de flores
flutuaram para a Terra das moradias divinas, enquanto as comunidades de
semideuses e seres religiosos gritavam congratulações reunidos
para honrar o filho enaltecido de Prtha.
O próprio Pandu
adorou feliz o Senhor Supremo e Seus representantes autorizados. Satisfeito
com sua adoração, os semideuses então dirigiram-se
ao melhor dos reis:
– Pela misericórdia
do Senhor Supremo, atuando por meio de semideuses seus agentes autorizados,
a Justiça nasceu como seu primeiro filho, Yudhisthira; o potente
Vento apareceu como seu poderoso filho Bhima que sempre aniquilará
o mau; e agora pela misericórdia de Indra, Arjuna apareceu como
seu filho, dotado com toda a potência do Senhor Indra. Certamente
não há ninguém mais piedoso que você, pois
os próprios semideuses tornaram-se pais de seus filhos. Você
está livre de seu débito para com os antepassados, e você
alcançará a morada celestial, pois o mérito da piedade
é seu júbilo.
Rei Pandu, entusiasmado
com suas bênçãos, ainda não estava saciado,
mas ao contrário sentia-se encorajado a seguir adiante seu desejo
intenso de filhos elevados. De novo, portanto, o monarca ilustre pediu
à sua amável e bem formada esposa Kunti para gerar um filho,
mas desta vez Kunti recusou-se inflexível e falou as seguintes
palavras:
– Mesmo em tempos
de crises, autoridades não permitem a uma mulher aproximar-se de
quatro homens diferentes. Se me aproximar de mais um outro homem, com
certeza tornar-me-ei uma mulher caída. Uma quinta vez e tornar-me-ia
uma meretriz ordinária. Pandu, você fala como um homem louco.
Como você pode pensar em violar minha honra desta forma por causa
de um outro filho? Precisamos nos lembrar dos princípios!
– Sim –
disse Pandu – ,você está certa. Os princípios
religiosos são exatamente como você os declarou.
*Tradução do Mahabharata/ Filhos dos Deuses/ por: Hridayananda das Gowami
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